Como Explicar a Menstruação para um Homem Sem Usar Desenhos ou Sacrifícios
Primeiro de tudo: senta. Não porque você não vá aguentar, mas porque a conversa é longa. E necessária. Explicar menstruação pra um homem adulto é como tentar explicar o Wi-Fi pra uma pedra — não porque vocês sejam burros, vejam bem, mas porque nunca tiveram que sentir a conexão caindo no meio do streaming da própria vida.
Vamos começar com o básico: menstruação é quando o corpo da mulher, depois de passar um mês se preparando pra hospedar um hóspede (o famoso bebê), percebe que o hóspede não veio. Aí o útero, esse Airbnb biológico, fica frustrado, joga as flores fora, derruba as cortinas, e faz uma faxina geral, mandando tudo embora em forma de sangue. E não, não é pouco sangue. Não é aquela gotinha que você vê quando corta o dedo e faz escândalo. É uma produção nível Tarantino.
E sabe o que é pior? Isso acontece TODO MÊS. Por anos. Décadas. Enquanto vocês reclamam de uma gripe.
Agora, imagine você com dor nas costas, cólica parecendo facada espiritual, uma TPM digna de roteirista de novela mexicana, e ainda tendo que trabalhar, sorrir e aguentar piadinhas do tipo: “Tá naqueles dias, né?”. Sim, estamos. Quer sair vivo, José? Fique em silêncio e traga chocolate.
Menstruar não é só sangrar. É transformar. É viver em um corpo que se revoluciona sozinho. É o ciclo da vida girando dentro da gente, sem botão de pausa. É lidar com a sensação constante de estar vazando — da dignidade, da paciência e, sim, do útero também.
Mas vamos por partes.
A TPM (Tensão Pré-Mortesmo)
Antes do sangue vem o aviso. TPM. A mulher sente tudo ao mesmo tempo: raiva, tristeza, fome, sono e vontade de matar alguém com um olhar. O corpo incha, a paciência some, o sutiã aperta, e o mundo parece querer te provocar.
Homens olham e pensam: “Nossa, que exagero.” Aham. Exagero é você pedindo ajuda pra abrir pote de azeitona. Nós, em TPM, abrimos a geladeira e choramos porque o leite acabou. É a emoção aflorada do ser humano que carrega o fardo de ser ovulante num mundo impaciente.
O Primeiro Dia
Aí vem ele. O primeiro dia da menstruação. Um tsunami de dor e desalento. O útero resolve fazer crossfit, e cada contração é como uma mensagem dizendo: "Você não é mãe ainda, mas vai sofrer como se fosse."
Nesse dia, a gente quer colo, silêncio e talvez um pacto de paz universal. Mas sabe o que a vida faz? Manda reunião, fila no banco e vizinho ouvindo sertanejo alto. Porque sofrer menstruada nunca é poético. É real. É suado. É cruel.
O Coletor, o Absorvente e o Drama
Vamos falar de ferramentas: coletor menstrual, absorvente, calcinhas especiais. A mulher moderna é uma engenheira da dignidade. Colocar um coletor é como tentar encaixar um disco voador em órbita. Requer calma, habilidade e a fé de três freiras e um orixá.
E o absorvente? Ah, o tradicional... aquele colchãozinho desconfortável que parece um travesseiro mal posicionado entre as pernas. Você anda como se estivesse com um segredo. E tem: sangue.
E o mais injusto? Além de sofrer, a gente ainda paga caro por isso. O famoso "imposto rosa" nos faz gastar fortunas pra manter a paz entre nossas pernas. É como se o mundo dissesse: "Parabéns por não engravidar! Pague por isso."
O Julgamento e a Invisibilidade
E tem julgamento. Se vaza, é relaxo. Se reclama, é drama. Se se recolhe, é fresca. Se fala abertamente, é vulgar.
Mas olha, menstruação não é vulgar. Vulgar é não saber nada sobre ela e ainda achar que pode opinar. Menstruação é biologia, poesia, sofrimento e sobrevivência. É um lembrete mensal de que estamos vivas, férteis ou não, mães ou não. É resistência com perfume de camomila e dor lombar.
As Piadinhas
E lá vem o primo, o tio, o colega de trabalho com a piadinha infame: — Ih, tá de TPM?
Não, querido. Tô com os hormônios em guerra, as emoções desreguladas e a vontade de te dar um tapa com o calendário. Mas segura, porque a educação é maior que a cólica.
A Educação Que Faltou
A verdade é que os homens não sabem porque ninguém ensinou. Falaram de sexo, mas não falaram do ciclo. Mostraram peito, mas não falaram de hormônio. E agora a gente cresce tendo que explicar tudo como se fosse uma TED Talk com efeitos especiais.
É exaustivo, mas necessário.
A Comparação Que Ajuda
Pra facilitar: imagine que, uma vez por mês, você fosse obrigado a usar uma cueca feita de lixa, com uma almofada entre as pernas, enquanto seu abdômen é chutado por uma entidade invisível. Durante isso, você precisa parecer simpático, produtivo e apresentável. Agora, mantenha isso por cinco dias. Todo mês. Durante uns 40 anos.
Bem-vindo à experiência menstrual.
O Amor e a Menstruação
E, mesmo assim, a gente ama. Ama os nossos corpos, ama quem entende, quem acolhe, quem traz o chocolate e o silêncio. A menstruação também nos ensina sobre cuidado, sobre tempo, sobre ciclos.
Não somos frágeis porque menstruamos. Somos ferozes. Fortes. Porque mesmo sangrando, seguimos.
Então, Homem, Escuta
Se você quer amar uma mulher de verdade, entenda o que é esse processo. Não fuja da farmácia quando ela pedir absorvente. Não tenha nojo. Não trate como tabu. Trate como parte da vida dela — e se você tem uma mãe, uma irmã, uma filha, essa também é sua vida.
Fale sobre menstruação com naturalidade. Pergunte se ela está bem, se precisa de algo. Não porque você é um herói. Mas porque você é humano.
A gente sangra, sim. Mas isso não nos faz menores. Nos faz imensas.
E da próxima vez que perguntar por que ela está estranha, talvez seja só o útero dela gritando. E você pode ajudar — começando por não dizer “nossa, que drama”.
Traga chocolate. Traga empatia. Traga respeito.
O mundo seria bem melhor se todo homem entendesse um pouco do que é ser mulher. E menstruar.
— Fim do ciclo. Até o próximo mês.